domingo, 27 de setembro de 2009

Crônicas de Sala de Aula; a história de Judith

Entrei naquela sala de sétima série pronta para mais uma aula, o tema em questão era Imperialismo na África e na Ásia.
Comecei a dissertar sobre tal questão, mas meus ouvintes não estavam nem aí, foi então que resolvi fazer uma pergunta:
_ Vocês conhecem a história de Judith?
Como eu esperava ninguém assentou com a cabeça que sim.
Bem, prossegui, vou contar esta história para vocês.
O silêncio antes tão difícil de conseguir agora reinava absoluto, nada mais útil do que atiçar a curiosidade através de uma boa história.
Judith era uma menina de seis anos, vivia nos EUA, durante o período em que ainda vigorava neste país a segregação racial.
Logo após o fim da guerra civil americana em 1865, alguns estados passaram a legalizar esta prática, que perdurou até o ano de 1964.
Acontece que lá pela década de sessenta esta menina foi a primeira negra a ser autorizada a freqüentar uma escola exclusivamente para brancos.
Quando a pequena Judith chegou, a escola estava vazia, foi recebida pela professora, na sala apenas ela e a professora, quando bateu sinal do recreio Judith sentou-se em um banco do enorme pátio, abriu sua lancheira e saboreou o que sua mãe havia lhe preparado.
Assim à tarde seguiu, professora e aluna cumpriram as tarefas escolares, a garotinha aprendeu, encontrou as letras que tanto deseja para finalmente escrever seu nome fez um desenho onde vários rabiscos representando pessoas davam as mãos.
Finalmente o sinal bateu, a professora ajudou Judith arrumar suas coisas, deu a mão para a menina e a conduziu até o portão da saída.
Antes, porém ajoelhou-se e disse:
_ Judith você gostou de seu primeiro dia de aula?
A menina respondeu:
_ Sim eu gostei, mas para onde foram todas as outras crianças, todos os dias vão ser assim, só eu nesta escola tão grande!
A professora procurando preparar a garota para o que viria a seguir calmamente falou:
_ Minha menina, não, você vai ver que nem sempre vai ser assim, mas para que as coisas mudem e seus amiginhos voltem vai me prometer que quando este portão abrir, não importa o que aconteça você vai seguir de cabeça erguida, olhando para frente, sua mãe vai estar lá esperando, apenas siga sem olhar para os lados, enxergue apenas o olhar de sua mãe e procure cantar aquela musiquinha que lhe ensinei hoje, ouça apenas a sua música!
O portão abriu-se, e um corredor estreito era o que Judith tinha para caminhar, dos dois lados havia uma multidão, estavam ali as crianças brancas com seus pais, todos gritando, insultando, mas a pequena menina de seis anos cumpriu o que prometeu a professora, ergueu a cabeça, começou a cantar a musiquinha e fixou o olhar nos olhos de sua mãe.
Assim naquele dia Judith entraria para a história como a primeira criança negra a ter o direito de estudar em uma escola de brancos.
A mãe a esperava de braços abertos pegou a filha no colo e seguiu afastando-se da multidão.
Ao terminar a história procurei salientar aos meus alunos que o racismo originou-se das teorias raciais lá por volta do século XIX, onde cientistas através de vários estudos afirmavam a superioridade de uma raça sobre outra, ou seja, que havia grupos humanos superiores aos demais.
Falei que mais tarde quando os países europeus iniciaram seu processo de colonização, necessitavam de mão-de-obra barata, melhor ainda se fosse de graça.
Então recorreram aos ideais gregos de perfeição e as tais teorias raciais do século XIX, acrescentaram mais um ingrediente, a questão da cor, pronto estava justificada a escravidão e disseminada a discriminação.
Confesso que hoje me causa enorme repulsa quando ouço pessoas ainda falando nesta questão de “raça”, vez por outra escuto especialistas, mestres, enfim cidadãos ainda insistindo em classificar as pessoas dentro de uma categoria racial.
Penso que existe uma única raça em nosso planeta, a “raça humana”, somos todos da mesma raça, persistir seguindo preceitos formulados em outro momento histórico é algo inconcebível.
Aproveitei a mesma aula para discutir um pouco sobre as várias roupagens em que o preconceito se traveste.
Por exemplo, o preconceito em relação ás opções sexuais de cada um, ou o preconceito com pessoas tatuadas que ainda existe, ou preconceito quanto à religiosidade.
Com certeza não devemos categorizar, julgar, pois em todos os segmentos de uma sociedade vamos encontrar pessoas que valem á pena e aquelas que não valem.
Isso é uma questão de caráter, de uma série de valores pessoais forjados ao longo das experiências pelas quais passamos. Uma opção em oposição à velha mediocridade.
Enquanto seguirmos o caminho do gado, enquanto não atingirmos uma consciência mais elevada, vamos continuar reafirmando teorias forjadas a ferro e fogo ao longo do contínuo processo histórico e tudo atestado cientificamente.
O sinal bateu, para que série mesmo vou agora?

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Crônicas de sala de aula

Hoje amanheceu um dia daqueles tortuosamente chuvosos, aliás, despencou água a noite toda.
Como de costume o despertador cumpriu sua missão e não é que na hora certa...
Seis horas da manhã, levantei, mas não antes de dar aquela enrolada básica, viro pro outro lado e nossa, achei a posição mais aconchegante, aquela que busquei em vão madrugada á fora.
Sempre me questiono, qual motivo será este que nos leva a ter o sono mais gostoso, justamente na hora de acabar com o mesmo...
Bem, segui para o banho, mais água, lá fora e agora no chuveiro.
Passei um café, saboreei esta bebida fantástica e sai.
Enquanto caminhava cantarolava uma canção da Legião Urbana, uma que traduz perfeitamente a faceta mais medíocre do ser humano, a de não vislumbrar o mais simples como mais importante, a música “Índios”.
Finalmente cheguei à escola onde leciono, minha primeira aula era com uma das oitavas séries.
Entrei, dei um bom dia aos meus efervescentes adolescentes, fiz a chamada e iniciei.
Acabamos de sair do período entre guerras, estamos agora em plena segunda guerra mundial!
Procuro criar aulas dinâmicas e começar sempre com algo que desperte a atenção dos jovens pupilos.
Então pedi que fechassem os olhos e imaginassem esta cena:
_ Imaginem que hoje ao chegar da aula, encontrem suas casas vazias, seus parentes ausentes, tudo revirado.
_Agora imaginem que vocês ao saírem para procurar sua família, fossem pegos á força e colocados em um caminhão e levados para uma estação de embarque, que fossem jogados dentro de um trem de carga juntamente com pessoas que assim como vocês não fazem idéia do que será de suas vidas.
_ Então depois de horas ou dias viajando, sem água, sem comida, quase sem ar, finalmente chegassem ao seu destino final, um campo de concentração, onde no portão de entrada estivesse escrita a seguinte frase “Somente o trabalho liberta”.
Ali naquele lugar vocês receberiam um uniforme listrado, são marcados com ferro em brasa, tatuados com um número, suas cabeças raspadas.
Ali a vida deixa de ser vida e passa a ser sobrevivência, aqueles mais aptos são forçados a trabalhar exaustivamente, os que não possuem resistência...
Digamos que um dia alguém entre gritando dizendo que vão tomar banho, todos são levados, tiram as roupas e amontoam-se em um mesmo espaço, esperando a água, quando a mesma começa a cair, vocês começam a sufocar desesperados tentam em vão sair daquele banho maldito, mas não conseguem, caem todos mortos.
Meus caros amigos este era um dos métodos utilizados pelos nazistas para eliminarem os grupos considerados impuros, indignos, durante a segunda guerra, principalmente os judeus.
Neste momento cito um nome, Nicolas Wintom, pergunto se alguém ali já ouviu falar deste homem, as cabeças respondem negativamente.
Pois bem, nesta época, Wintom era um jovem e visitava a Tchecoslováquia, percebeu o perigo que centenas de crianças corriam de serem enviadas para os campos de concentração nazistas.
Este jovem era inglês e ao retornar ao seu país ficou pensando em como poderia fazer algo para evitar o destino trágico de crianças judias.
Foi aí que pegou sua velha máquina de escrever e começou a escrever cartas, muitas cartas para famílias da Inglaterra, nestas cartas informava sobre o perigo nazista e pedia que se pudessem receber uma destas crianças, estariam salvando uma vida.
Desta forma Nicolas Wintom organizou o The Kinder Transport, o transporte de crianças judias na segunda guerra.
Graças a iniciativa deste homem 669 crianças tiveram suas vidas salvas, somente o último trem com 300 crianças não pode sair a tempo, estas se juntaram as 15 mil crianças tchecas assassinadas em campos de concentração.
A esta altura da aula, os olhos arregalados mostravam que meus alunos estavam entrando no espírito da segunda guerra.
Alguém me perguntou o que aconteceu com Nicolas Wintom.
Expliquei que ele nunca contou a ninguém o que fez, e muitos anos depois, sua esposa encontrou no sótão um velho baú com fotos de crianças, cartas, bilhetes de passagens, quando foi questioná-lo, ele contou toda a história.
Seu feito veio á tona, recebeu homenagens, e foi convidado para participar de um programa de televisão, estava sentado na primeira fila da platéia e após ser entrevistado e contar tudo que passou a apresentadora lhe disse que a mulher que estava sentada ao seu lado era uma das crianças que ele salvou, ele emocionou-se, os dois se abraçaram.
Mas logo em seguida a apresentadora perguntou quem da platéia teve sua vida salva por Nicolas Wintom fique em pé, simplesmente a platéia toda fico em pé, e todos agradeceram!
Terminei a aula dizendo aos meus alunos que a importância em estudarmos a história reside aí, no fato de que Adolf Hitler foi eleito pelo povo, e que temos a obrigação de estarmos sempre atentos, que o poder é capaz de gerar monstruosidades incalculáveis.
Salientei que o que estudamos, lemos, as fotos estão ali, e apesar de que para eles parece algo distante quase irreal, foi real sim, aconteceu e que hoje ocorrem inúmeras aberrações, falei sobre os grupos neonazistas que se proliferam exaltando os ideais nazistas e idolatrando Hitler, perseguindo homossexuais, negros, nordestinos...
O preconceito é corrosivo, degenerativo e devemos respeitar as escolhas de cada um.
Comentei sobre um caso recente aqui em nossa cidade Curitiba, onde um grupo de universitários se reuniu em uma chácara para festejar o aniversário de Hitler e aproveitar para planejar novos ataques.
O caso só veio a tona porque um casal que participava da festa teve uma desavença por motivos de liderança e foram assassinados, a polícia após investigações descobriu até pela forma como foram mortos que faziam parte deste grupo neonazista com ramificações no estado de São Paulo.
Pedi que refletissem na gravidade do caso, alunos universitários com acesso a informação e reproduzindo comportamentos lá do passado mas bem presentes em nossos dias!

domingo, 20 de setembro de 2009

Buscar amar

Ciranda cirandinha Sobre o que hoje vamos falar. Melhor seria calar Parar em frente ao mar. Apenas para regenerar. Parar para respirar. Somos todos Cravos ,Rosas. A procurar. A vagar. A percorrer. Esta imensidão de mar. De amar. De errar. Perpetuar. O além mar. Além amar.. Náufragos Da inconstância Eterna. Do buscar amar!

Crônica da dia: Sobre a Hipocrisia

Hipócritas! Hoje me disponho a escrever sobre este gênero tão comum entre os ditos da espécie "humana", sim eles, elas, os(as) hipócritas! Mas o que é a hipocrisia, bem ao meu modo de enxergar esta faceta obscura, nada mais é do que aquele modo de agir, pensar no cotidiano apenas em si mesmo. ou em si mesma. A velha lógica em ser ardiloso, astuto. podre, imperdenido, isto tudo vale para o gênero feminino também. Sabe aquelas pessoas que te dão os sorrisos amarelados, meio de canto, aquelas que por mais que você procure ser amável, gentil, não apreciam, não reconhecem a amabilidade, pessoas falsas mesmo. Nossa impressiona a quantidade deste seres, estão por aí espalhados na crosta terrestre,ervas daninhas. E o mais engraçado de tudo isto, nossa e como é divertido, confesso que me divirto muito, é o fato destes seres se acharem espertos... Pensam que camuflados não serão reconhecidos, eu reconheço um hipócrita, e ainda faço testes com eles, e o pior é que nem percebem os experimentos que faço. A coisa funciona mais ou menos assim: Quando meu sensor capta um destes seres, imediatamente os coloco em fase de experimento, analiso meticulosamente todas as suas reações, suas ações, tudo isto obviamente sem que eles se apercebam. Estes dias resolvi testar um destes seres, a espécie nem sequer imaginava que estava sendo vítima de minha análise, mais divertido. Resultado, caiu como um ratinho de laboratório, presa fácil. Após o teste conclui que estava certa, vitória, havia acertado na análise. Vixi, eles pensam que enganam, mas são tão tolos, tão tolos coitados. O teste funcionou assim: Eis que eu tinha lá minhas dúvidas ainda a respeito do ratinho ou ratinha de laboratório, então fiz a análise empírica. A criatura passava por mim, então fiz um comentário simpático, agradável, tipo assim querendo puxar papo. A criatura me olhou e deu-me uma resposta fria, antipática, eu naquele momento dava gargalhadas por dentro, venci, não havia me equivocado, meu detector de hipócritas não valhara! A história com tal ser confesso até o teste fatal ainda me causava certa dúvida, afinal a pessoa em questão dias era extremamnete gentil, dias sequer olhava-me, até ignorava-me. Nunca gostei deste tipinho, um dia lhe trata bem , sorri, no outro lhe trata com desdém, aí meu amigo tem! Como existem hipócritas, eu cá com meus botões realmente não entendo este tipo de ser, ou "não ser"... Mas é a sina da humanidade, desde que o mundo é mundo, os hipócritas estão aí., eita espécie difícil de entrar em extinção!

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Algumas considerações sobre literatura

Os avanços de um mundo cada vez mais globalizado, acelerado, tecnologias avançadas em todos os sentidos, a literatura persiste como um símbolo mitológico, apesar do livro digital ser uma realidade, há ainda os que apreciem o folhear de um bom livro, sentir as páginas, parece que este ato aproxima o leitor do autor e das histórias por ele criadas. Mas muitas vezes o olhar reflete as experiências sobre o que lemos, um bom exemplo é a história de uma antropóloga americana chamada Laura Bohannan que resolveu testar se uma comunidade primitiva podia compreender Shakespeare. Ela partia de um pressuposto; que o gênio inglês tratava de sentimentos universais nos seus textos dramáticos, portanto, todos deveriam entendê-lo. E, assim, dispôs-se a verificar os limites de sua teoria, que era também uma maneira de estudar antropologicamente as diferenças culturais. Rumou para o oeste da África e foi viver com os TIV. Adotou uma estratégia que foi ficar lendo sozinha, na sua cabana, o Hamlet. Ficava de propósito lá entretida esperando que eles se interessassem pelo que estava lendo. E tão entretida estava que os primitivos começaram a ficar intrigados, afinal, o que acontecia com ela quando ficava com aquele livro na mão... Pediram, então, que lhes contasse a história que estava lendo. Laura chamou-os para ouvi-la. Estavam eles ali já sentadinhos em torno dela e mal ela iniciou a narrar, começaram os problemas de interpretação. Quando descreve aquela cena inicial em que o rei e pai de Hamlet, depois de assassinado, aparece vagando na torre do castelo, um dos homens da tribo disse que aquilo era impossível. Ele não podia ser o “chefe”, mas outra pessoa, apenas um representante dele. E a coisa tornou-se ainda mais complicada porque não podiam entender a palavra”fantasma”. Para eles só podia ser um “zumbi”, uma entidade maléfica qualquer. Além do mais, diziam, os mortos não andam, que coisa era aquela de ficar zanzando noite adentro. A antropóloga tentou explicar uma coisa e outra, e tentando passar por cima das divergências, continuou. Quando lhes foi dito que o tal fantasma do rei havia confidenciado a Hamlet que só ele, seu próprio filho, poderia resolver o problema de sua morte, ou seja, de vingá-lo, de novo os primitivos acharam estranho. Na tribo deles, não é tarefa dos jovens resolverem os problemas. Quem tem que assumir a responsabilidade é o ancião. E o ancião na história de Hamlet era Cláudio, tio de Hamlet. Só que este é que havia assassinado o rei com a concordância da própria mãe de Hamlet Os africanos já deviam estar achando os brancos para lá de malucos, e mais intrigados ficaram quando a narradora lhes deu outra informação da história. Ou seja, que Gertrudes – a mãe de Hamlet se casou rapidamente com Cláudio, ou seja, não havia deixado o cadáver do marido esfriar. Isso era, de novo, inaceitável. Segundo o costume daquela tribo, a viúva tinha que ficar pelo menos dois anos de luto. Claro que as mulheres nem sempre concordavam com isso, pois durante a narrativa da antropóloga, uma esposa que ouvia a história, reclamou que o marido morria, era necessário rapidamente outro homem para cuidar do campo e das cabras. Enfim, a tarefa a que se propôs a antropóloga americana foi se frustrando. A cada informação que dava, vinha uma divergência cultural e simbólica. Ela teve até que saltar o famoso monólogo. Essa coisa de “ser” e “estar” só os metafísicos ocidentais entendem. É possível que você como eu nunca tenha tentado explicar Hamlet, mas é certamente provável que, sem ir á África e sem ter o Hamlet nas mãos, você e eu tenhamos tido experiências semelhantes tentando explicar o inexplicável. Este texto foi de Affonso Romano Sant’Anna, no jornal O Rascunho, um periódico que trata somente de assuntos literários, interessante a experiência desta antropóloga, ela nos faz repensar aquela coisa toda da “literatura universal”. Então podemos tirar uma primeira conclusão, de que a leitura é subjetiva, depende de quem lê sim, enganou-se que imaginou o contrário. Durante o processo histórico as formas de escrita,os estilos literários foram sofrendo alterações de acordo com o momento. Na idade média, por exemplo, a Igreja detinha os domínios da escrita, os mosteiros foram importantes para que hoje muitos dos clássicos sejam conhecidos, este era o ofício dos copistas. A escrita sempre esteve presente na vida de todos os povos, seja em forma de palavras, seja através de símbolos, que representavam algo que se desejava contar, deixar registrado. Por meio de obras literárias pode-se conhecer muito sobre uma época, os costumes, o cotidiano, enfim a literatura serve a humanidade de modo incontestável. Um tipo de literatura extremamente interessante é a descritiva, aquela que viajantes relatam com minúcias as impressões de determinados locais. Saint Hilaire o naturalista francês por exemplo registrou em um livro suas andanças pela região sul, percorreu o estado do Paraná e anotou o que viu na Vila de Curitiba. A leitura sempre nos transporta para lugares que jamais poderíamos ir ou imaginar, os clássicos hoje não instigam muito a safra de leitores jovens, isto de certa forma tem uma explicação. Primeiro, a cultura massificada cada vez mais assumiu o controle das mentes, assim tudo torna-se mais facilmente digerível, isto não ocorre somente com a literatura, mas na música, e demais expressões artísticas. A propaganda de massa fortemente utilizada por Adolf Hitler propagou-se e hoje o que se vê nada mais é do que uma calcificação destas práticas. Outro motivo pelo qual os clássicos não vingam entre os mais jovens é a própria obrigatoriedade, muitos professores, escolhem um determinado livro, por exemplo “O Guarani” e cobram esta leitura, em forma de prova, isto não desperta leitores, ao contrário, os espanta. O primeiro passo para se formar leitores é fomentar a criatividade dos mesmos, valorizar uma redação quando esta possui uma essência, e não apenas encher de rabiscos com caneta vermelha a produção do aluno, neste simples ato o professor menos atento e insensível estará podando um futuro talento. Nos dias em que vivemos estão em alta os livros de auto-ajuda, aqueles com mensagens de incentivo, historinhas recheadas daquilo que muitos precisam ler para seguirem com suas vidas. Neste sentido muitos se tornam Best-Sellers, que o diga Paulo Coelho, o mestre da auto-ajuda. A literatura mais antiga também não atrai a muitos pela falta de valorização em uma sociedade de seus antepassados, da própria valorização da história, considera-se tudo que é antigo chato, maçante, mas um Fiódor Dostoiéviski, nada possui de maçante. Quem se atrever a ler Crime e Castigo, por exemplo, não conseguirá largar até chegar ao fim. Autores brasileiros como Machado de Assis atrairiam muito se fossem desmistificados para as novas gerações, os contos de Machado são estimulantes. O que acontece é que a mídia valoriza tudo aquilo que é descartável, consumível e logo após facilmente substituído por um novo sucesso. Assim Júlio Verne não chega aos meninos que gostam de aventuras, mas a saga do bruxinho Hery Potter vende bem. As histórias sempre fizeram parte da humanidade, mas hoje em dia como disse o especialista em mitologia Joseph Campbell, as pessoas não estão familiarizadas com a literatura do espírito, estão interessadas nas notícias do dia e nos problemas do momento. Antigamente, o campus de uma universidade era uma espécie de área hermeticamente fechada, onde as notícias do dia não se chocavam com a atenção que se dedicava a vida interior. As literaturas grega e latina e a Bíblia costumavam fazer parte da educação de toda gente. Tendo sido suprimidas, toda uma tradição de informação mitológica do Ocidente se perdeu. Muitas histórias se conservavam, de hábito na mente das pessoas. Quando a história esta em sua mente, você percebe sua relevância para aquilo que esteja acontecendo em sua vida. Os grandes romances podem ser excepcionalmente instrutivos, a leitura de mitos também, o que estamos aprendendo nas escolas não é a sabedoria da vida, estamos aprendendo tecnologias, acumulando informações, existe uma forte tendência à especialização. "Nós modernos, estamos despindo o mundo de suas revelações naturais, da própria natureza, quando os seres humanos destroem a natureza, destroem sua própria natureza, deixam de ouvir a música", sábias palavras de Joseph Campbell, mitologia é música e literatura também.

domingo, 13 de setembro de 2009

Absolutismo despótico e viva Sarney!

Bizarrices é tudo que constato neste cotidiano brasileirístico! Por aqui, abaixo da velha linha do Equador sabe-se que historicamente as práticas da velha política forjada á ferro e fogo não passa por uma boa poda há décadas. Aqueles imemoriáveis tempos das vendas de títulos de nobreza, e as infindáveis reuniões onde as benéficies artimanhas políticas aumentavam os patrimônios de muitos, nossa quantos coronéis, quantas maracutaias em nossos quartéis. Que nos diga nosso ilustríssimo presidente do Senado José Sarney, os contratos de gaveta são uma benção em Brasília. Aliás, a localização geográfica de nossa capital federal foi muito bem articulada, assim como o déspota Luís XVI esperto resolveu construir o Palácio de Versalhes bem longe das massas populares. Estamos distantes de Brasília, isso por si só torna-se um grande entrave para que estes políticos corruptos, sujos e sem escrúpulo algum possam ser incomodados pelo calor do povo. Quando volto nas páginas da história delicio-me com a revolução francesa, a queda da BASTILHA! Então viajo e sonho com a queda de Brasília, imaginem. O povo cercando o senado, o palácio do planalto, LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE! Penso nos colarinhos suados , estampados com o suor do medo, do pânico, que bela cena seria, ver todos ladrões que saqueiam o povo e depois na frente das câmeras ficam com aquele ar de autoridade achando-se acima de tudo e de todos. Que bela cêna seria ver todos saindo algemados, indo direto pra cadeia cumprir sua penas e o proletariado unido demosntrando a força que possui! Ai, mas retorno á realidade e percebo que o sonho na real é um pesadelo que não se finda nunca, eles estão lá, tramando, articulando, tripudiando. A história nos mostra que homens com gana de poder e grana sempre existiram, sempre existirão, mas a velha história nos mostra também que quando um povo se revolta, cria consciência de sua força, pode mudar os rumos da mesma. Assim seguimos neste imenso caudal caótico, mas José Sarney lembre-se o período dos déspotas passou, ou será que vossa excelência esta querendo implantar o absolutismo por aqui, se a resposta for sim, vou agora mesmo criar uma máquina do tempo e fugir quem sabe para aquele dia glorioso, perambular pelas ruas de Paris e vislumbrar a ira do povo bem de perto, só para voltar com mais vibração cheia do espírito das ralés!

Miniconto: Brasília Surreal

A movimentação começou, em pouco tempo Brasília estava sitiada, agentes da Polícia Federal cercavam o Senado, o Congresso, os Ministérios. Levas e levas de presos, algemados, eram colocados em ônibus estratégicamente estacionados. A limpa deixou a capital federal praticamente uma urbe fantasma, visto que alguns poucos escaparam. Para completar a limpeza, foram trazidas as baianas que realizam a lavagem das escadarias de Salvador, sal grosso, todo um rito de purificação, e só para garantir uma detetização geral, afinal ratos sempre voltam! Só mesmo um conto surreal para explicar toda a surrealidade em que nos encontramos!

sábado, 12 de setembro de 2009

Comércio da fé

Terça-feira agora Vai estar lá O pastor Joel Vai com fé Vai com otimismo Só não esqueça de levar o dízimo Grande corrente Povo carente Descrente nem apareça Atrapalha, amarra Fica do lado de fora Enquanto o povo de dentro Ora, implora Outro dia que coisa Vi na tela da tv Ouvi mas não pude crer Agora chegou o cartão de crédito da fé Você liga é atendido A voz do outro lado Fala em tom emocionado Deus ama você Tudo bem pode crer Mas o comércio que se faz Nada haver com paz Despreendimento Afinal a mensagem Era outra Não esta inserida Neste contexto capitalista Mas as coisas do céu Precisam acompanhar O consumismo exacerbado Doutrina consumista Fiel que é fiel Precisa ter seu Kit O mercado agradece Ao cara lá de cima Para entrar no paraíso O sujeito tem que estar comprometido Quinta-feira Nova corrente Empresário endividado Seu problema será curado Mas não esqueça De reverter seus rendimentos futuros Deus é cobrador Não gosta de fiel devedor Pode se arrepender E fazer você perder O que fez por merecer Etá que não compreendo Esta fidelidade Onde a grana Vem antes da bondade Estranha esta devoção Eu heim Acredito que esta hora Deus esta muito ocupado Revisando os carnês Que não foram pagos Deve ser um corre danado Para colocar a contabilidade nos conformes Coitado deste Deus Deve estar precisando de férias

Sobre Stone e Hugo Chávez

Agora aqueles que se apoderam da democracia para exterminá-lá tem mais um aliado a seu favor além da ignorância das massas e de seus velhos discursos mal acabados. Prova disto é a produção de Oliver Stone que coloca Hugo Chávez no papel de incompreendido e benfeitor, um equívoco histórico! Triste ver como ditadores em pleno século XXI, ainda conseguem convencer mentes naufragadas no mar do esquecimento. Pergunto-me como pode tal incoerência vingar, após tantas ditaduras, após tantos nomes que covardemente e friamente se incorporaram á história universal. Adolf Hitler era mestre em manipular as massas, graças a sua sórdida astúcia e de seus aliados, promoveu atrocidades que não podem ser apagadas, encobertas, seus desejos levaram aproximadamente seis milhões de judeus á morte durante a segunda guerra mundial isto sem contar os doentes mentais de seu próprio país que representavam um entrave á pureza da "raça" ariana. Aquelas chaminés propagavam a fumaça negra dos corpos carbonizados, os que não eram enviados aos fornos de encineração eram despejados em covas, amontoados do que um dia foram vidas, vidas desprovidas de seus direitos básicos, liberdade, igualdade! Por vezes consideram meu discurso exagerado ao comparar Hitler a Hugo Chávez, mas minha comparação tem lá seus fundamentos e o principal de todos é este: a asfixia da liberdade democrática, da liberdade de imprensa, tudo bem que o Sr. Oliver Stone queira bancar o bom samaritano, o salvador da imagem Hugo Chaviana, afinal o coitado do Chávez é mais um perseguido pela política norte-americana. Mas há que se ter um compromisso com a verdade, um rigor em se apresentar fatos de uma personalidade como a que Stone tenta criar, faz lembrar aquelas criações bizarras de laboratório. Todos sabemos que os norte-americanos de santificados nada tem, ao contrário, financiaram ditaturas em toda a América Latina, enviaram militares para ensinar com maestria as técnicas de uma tortura sem marcas. Os sobreviventes do AI5 que o digam! O que estou procurando dizer com todo este amontoado de palavras é que ditadores sempre existiram e sempre haverão de existir no curso dos tempos, mas cabe a todos que possuem os meios de comunicação como fonte de seu trabalho, seguirem uma ética com a história, apurar, analisar, pesquisar, adentrar no cotidiano das massas para saber se realmente o que estão produzindo é digno de se tornar um documentário, um filme, uma reportagem. A omissão pode ser degenerativa, mas o excesso eufórico em se retratar certas personas é fatal, quando o objetivo principal é estar no foco das notícias!
Me propus a escrever todos os dias uma crônica, o tema escolho seguindo pistas de fatos do cotidiano político geralmente, mas só por hoje dou-me ao desfrute de escapar pela tangente, sair assim de fininho. Após um dia prazeroso mas extremamente cansativo, foram dez aulas para quintas, sextas, sétimas e oitavas séries, amo os jovens até me alimento daquele êxtase hormonal, mas hoje cheguei em casa, assei uma pizza, fui até o mercadinho da esquina, comprei um vinho, não um de alguma seleção especial visto que meus honorários não permitem certas extravagâncias, mas o do Avô, é bom, amanhã sei que ao acordar ás seis e meia para mais um dia de dez aulas, isenta estarei da ressaca! Até procurei em meus arquivos cerebrais um assunto sério para destilar minhas críticas ácidas e mordazes, mas deu uma lombeira! Bem agora o que posso dizer é que ontem ao assistir as cênas das chuvas em toda a região sul, chorei, pela mãe que não conseguiu segurar a filhinha de nove anos no colo, o vento foi impiedoso... Sabe ás vezes dá uma vontade absurda de ausência total e absoluta de todas as mazelas deste mundo,a fome, a segregação, a gana de poder dos chefes de estados, sinceramente acho que como Renato Russo não sou daqui, observo o cotidiano, sinto-me assim como uma telespectadora de longas e curtas deploráveis. Exatamente por isto, uma vez por semana recomendo á todos, dirijam-se até a mercearia da esquina, comprem um vinho, assem uma pizza de quatro e noventa e nove e desliguem-se.. Até parece que consegui, aqui estou escrevendo, affffff. Me perdoem a total falta de coerência gramatical, verbal, mas a culpa total é dele, o vinho do avô, e tenho dito!

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A Crônica do Dia:Considerações Históricas sobre o amor

Confesso , penso ser este um assunto demais aprofundado, falado, escrito, filsofado, mas que se danem as repetitividades em relação a este sentimento fruto da mais incrível experiência de que um ser pode vivênciar. Apesar de tão debatido, o amor raríssimas vezes é sentido e vivido em sua real plenitude, afinal somos todos humanos, mas que paradoxo, não é justamente esta humanidade que nos faz amar... Talvez não, somos uma só raça, a "humana", para queles que ainda insistem em subdividir nós os humanos em categorias raciais, peço a gentileza de se informarem historicamente sobre o conceito racial forjado lá pelo século XIX, que depois fundamentou a escravidão. Mas veja só caro leitor ou leitora, ou ambos os sexos fundidos em um único ser, pode lhe parecer que cometi uma fuga do tema ao qual me propus a escrever, não se engane, o amor ou melhor a falta do mesmo tem tudo a ver com a tal categorização acima descrita. Estou trabalhando a Segunda Guerra mundial com meus alunos das oitavas séries, resolvi então levar um filme cujo contexto obviamente esta dentro desta perspectiva. O Menino de Pijamas Listrados, a história mostra um oficial do exército alemão que recebe uma promoção, muda-se então com a família para o Campo de Concentração que irá comandar. Apesar da casa luxuosa estar um pouco distante do local das atrocidades, eis que o filho mais novo deste comandante acaba em sua explorações por descobrir o segredo por detrás da floresta. Ali de um lado da cerca o alemãozinho faz amizade com um garoto da sua idade, prisioneiro do campo. O filme mostra com primazia o olhar infantil desprovido ainda daquela mórbida crueldade da qual o "ser humano" é capaz. O amor da amizade floresce, dividido por uma cerca eletrificada, apenas isso impede que crie asas, pois os dois meninos ainda não compreendem o real impedimento de serem amigos. A falta total de amor, o sentimento mais medícre que se pode apoderar de almas decaídas, a crença de que uns podem ser superiores aos outros, o preconceito puro e límpido dentro de seu lamaçal. Enquanto assistiam ao filme pude observar, que em alguns brotaram lágrimas, embora em sua adolescência tentem disfarçar, mas isto me fez imensamente feliz, ali vi que o amor não se acaba, apesar daqueles que insistem em fazer piadinhas e não se apercebem de que o Holocausto existiu, foi possível sim, não é apenas uma história inventada para ser colocada nos livros. Ao fim de tudo, quando passavam as legendas, iniciei uma conversa sobre as impressões deixadas pelo filme, salientei mais uma vez os seis milhões de judeus exterminados pela podre política de Hiltler, mas também os lembrei o fato de que este ditador sanguinário foi eleito pelo povo, um povo que acreditou em seus discursos de superioridade. Um povo que necessitava reafirmar seu ideal de nação plena e absouta. Falei também sobre os grupos neonazistas que hoje ainda cultuam esta abominável forma de pensar e saem por aí espancando grupos por eles considerados minorias, como negros, homossexuais... Salientei que quando permitimos que o preconceito vingue estamos a um passo para a exclusão e da exclusão a um passo para a segregação e dela a um passo para o extermínio! Eis ai a falta que o amor faz em uma humanidade, o amor é livre de todas estas amarras, de toda e qualquer pequenez. O amor é fruto de uma evolução mental, um despreendimento total, onde o único desejo é ver a felicidade do outro, seja ele como for, quem for, o amor não conhece fronteiras, não estabelece limites ou cercamentos. O amor é o mais nobre dos sentimentos, talvez por isso seja tão poetisado, declamado, mas ao mesmo tempo é o sentimento que mais tempo leva para se construir, solidificar. Para se amar não existe regra, receita, existe apenas o desejo de se aprender a amar, mas para isto temos que nos tornarmos melhores, primeiro em nosso íntimo, sabendo que o enlevo de estarmos aqui, de estarmos vivos, é uma constante busca pelo aprimoramento deste nome que nos deram "humanos", quando cada um houver decifrado seu próprio hieróglifo, o amor emergirá e jamais será deposto, ou incinerado em fornos crematórios.