sábado, 17 de outubro de 2009

Crônicas de Sala de Aula : Sobre governos militares I

Hoje, mais uma sexta-feira, só para não variar o dia aqui na capital paranaense amanheceu chuvoso, cinza, mas levantei-me animada afinal sexta que antecede o sábado, hum mas acabei de lembrar, amanhã tem conselho de classe , sábado de Conselho! O tema de hoje: Governos militares, começando lá no golpe que derrubou João Goulart, seguindo pelo governo do general Humberto Castello Branco e a sequência de atos institucionais, AI-1, AI-2, AI-3, AI-4 e o fatal e derradeiro AI-5! O exercício de estimular jovens adolescentes a prestarem atenção em uma aula de história é cotidiano e árduo, mas na sexta é um pouco pior.. Quem disse que eles querem saber de um tal general sei lá das tantas que baixou uma série de atos institucionais e blá, blá.... Sinto muito mas por vezes sou obrigada a chamar na responsa, tipo assim, aumento o tom de voz, e falo; "mas é exatamente o que os militares desejavam, criar uma sucessão de gerações alienadas, descompromissadas com sua história, com sua realidade, eles conseguiram, agora, como eu gostaria que vocês pudessem passar nem que fosse um só dia nas garras da ditadura militar, neste período tenebroso da história de nosso país". Eles silênciaram por alguns segundos e ficaram me olhando, aí aproveitei e prossegui, " mas lá pela década de oitenta haviam jovens que estavam ligados aos acontecimentos, sabiam das torturas, da falta de liberdade democrática e faziam algo". Perguntei se conheciam Renato Russo, e nossa somente uma garota sabia quem foi. Falei sobre o jovem Renato, de sua vida no planalto central e das letras de constetação, até cantei um pedaço: "nas favelas, no senado, sujeira pra todo lado, ninguém respeita a constituição mas todos acreditam no futuro da nação, que país é este?". A geração de oitenta produziu arte aliada á cultura, informação e não como vemos hoje, uma sequência de "artistas" que criam lixo comercial, cultura de massa, refrão chinfrin, sem conteúdo, apenas baboseiras comerciais. Uma letra lá dos anos oitenta, disse aos meus alunos, deve ser por isto que esta letra é tão atual, a podridão impera justamente pela falta de importância que se dá a trajetória histórica brasileira, aí é inevitável, a ciclicidade, tudo de novo, tudo repete-se! Imaginem disse eu que nosso amigo o Fernando(um dos alunos) fosse prefeito lá de Pirapora do Norte na época do governo de Castelo Branco e que o Nandinho não concordasse com o governo militar, que lutasse pela liberdade democrática. Então, através de um dos Atos Institucionais, fosse retirado de seu cargo e sumisse assim por encanto! Era exatamente isto que ocorria, aliás estamos vendo uma campanha na tv sobre desaparecidos políticos, alguns alunos até comentaram que haviam visto a de uma mãe imensamente triste pelo desaparecimento do único filho. Salientei que através das torturas muitos jovens, estudantes, militantes, perderam a vida e que se hoje nós temos a democracia, temos obrigação de saber, aprender para nunca esquecer a luta de muitos para que hoje sintamos o gosto da liberdade. Liberdade de poder escrever, questionar as ações de políticos, sem que sejamos jogados nos porões ditatoriais militares. Ás vezes pego pesado mesmo, afinal nossa juventude precisa saber o que houve neste país, nós professores de história temos a missão de levar estes jovens pelas mãos até um passado não tão distante assim, e mostrar que Gregório Bezerra 64 anos foi arrastado em um jipe militar pelas ruas de Recife, considerado um inimigo do Estado. Temos o compromisso de contar a história do jornalista Vladimir Herzog, que em 1975, governo do general Ernesto Geisel, foi torturado, choques elétricos e uma longa sessão de tortura colocou fim á sua vida. E que depos a Agência Central do SNI, em Brasília informava que" hoje 25 de outubro, cerca das 15:00 horas, o jornalista Vladimir Herzog suicidou-se no DOI/CODI/II Exército". Herzog seria o 38º suicida, o 18º a se enforcar, "suicídios como este eram tão comuns"... Não podemos culpar nossos jovens pela alienação a que estão mergullhados, afinal são vítimas dos anos de ditadura militar vividos, expliquei aos meus alunos que a educação foi relegada a um segundo plano, que o objetivo dos militares era de formar técnicos, mão de obra barata para as indústrias, e não cabeças pensantes. Mas Herzog vive, porque não se apaga a história por mais suicídios que se queiram criar, não devemos nos calar nunca, nunca!

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